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sábado, 8 de novembro de 2014

Fantasmas de Marte - Capítulo 1

Minha tentativa de livro, chamado "Fantasmas de Marte", escrito por mim Daniel Andrighetti Moraes, essa obra não está registrada em lugar nenhum, então se você for ganhar dinheiro com isso, pelo amor de Deus me manda um cheque e uma caixa de Heineken. Obrigado.

FANTASMAS DE MARTE

PREFÁCIO

     Na agitada e barulhenta conferência de imprensa, estão sentados à mesa toda a equipe científica da missão, prontos a se apresentarem.

 - Sr. Presidente, como o senhor responde às críticas da oposição dizendo que essa missão não passa de uma forma de glorificar seu filho nos anais da história desperdiçando dinheiro público?

O Presidente, político experiente como provam seus cabelos brancos, sabe que nunca se responde uma pergunta direta com uma resposta direta. Não, ele sabe melhor que isso para não ser pego na armadilha da imprensa. Tomou um gole de água, tirou um lenço do bolso, esfregou seus óculos e aguardou a ansiedade crescer nos olhares da imprensa. "Tubarões canibais", pensou ele em desabafo.

 - Sra. Minerva Van Atena, quero agradecer a todos por terem vindo aqui hoje para testemunhar esse dia histórico. História, Sra. Minerva, não é assunto político, nem econômico, nem para poucos privilegiados. A história da humanidade é feita por todos nós, dia a dia, ação por ação. Se a história tem problemas de memorização, se alguns fatos são lembrados errados e outros esquecidos, certamente meus opositores concordarão que não é culpa minha. (risos na platéia). Eu convoquei todos aqui para um único propósito. A história será feita, e esse fato é inevitável. Eu, não como presidente das nações unificadas de Gaia, mas simplesmente como o homem, Sr. Netuno Von Poseidon, farei tudo que for possível para que a história seja escrita da forma correta. No fim da história, a missão terá sido bem sucedida, e todos conhecerão a história da forma que ela realmente aconteceu. Isso é tudo sobre mim, vamos agora conhecer a equipe que será a primeira representação da humanidade a explorar e colonizar o planeta Marte, aquele que um dia foi vivo como Gaia, mas que pereceu por sua própria natureza violenta. Isso é tudo.

Como sempre, as respostas evasivas e misteriosas do presidente deixou a imprensa insandecida, alguns pularam as cadeiras e se acotovelaram para tentar extrair mais filosofia barata de um político liso feito sardinha, mas foram obviamente barrados pela segurança presidencial, com um certo esforço. Nos bastidores, o presidente não estava cansado, mas havia atuado de forma que a imprensa acreditasse assim, para que sua verdadeira intenção de não ser visto junto a seu filho fosse sabida por todos.

 - Sentem-se todos por favor. Silêncio. - Pediu um assistente anônimo. - Eu peço a todos que retornem a seus lugares para começar a rodada de perguntas aos membros da tripulação. Obrigado.

Como máquinas bem programadas, a imprensa imediatamente se organizou em uma platéia quase humana e civilizada, que poderia enganar o observador inocente que não soubesse melhor.

- Comandante Júpiter Von Zeus - Um dos repórteres salta de forma tão veemente que seus colegas sabem imediatamente, que assim como se fosse um programa de televisão, aquele que bate o botão primeiro pergunta primeiro - É verdade os boatos que o senhor usa o sobrenome de solteiro de sua mãe para tentar convencer a oposição política contra o fato que o senhor foi privilegiado por ser filho de Netuno?

Normalmente, essa pergunta seria respondida com uma chuva de socos na cara, depois de ter chutado a mesa e acotovelado a turma do "deixa disso", mas essa não é a primeira vez que ele ouve essa pergunta, e não é a primeira vez que ele faz papel de otário em frente às câmeras. Não. Dessa vez, só dessa vez, ele não iria cair nessa óbvia armadilha. Mas o pensamento de socar o repórter lhe deu um breve ataque de risos.

 - Sim, todos sabem que o sr. presidente é meu pai, todos sabem que minha mãe morreu quando eu tinha 8 anos, todos sabem que meu pai me mandou para uma escola internato militar, e que eu vivi toda a minha vida no exército. Mas eu pergunto a vocês. Existe algum provável candidato para minha posição que tem 22 anos de treinamento militar, medalha de honra da Câmara do Senado por bravura, Medalha Escudo de Atena por serviço exemplar no alívio do desastre do Vulcão Vesúvio, Troféu Apolo por vencer 19 das 21 modalidades olímpicas? Eu desafio o senhor, ou qualquer outro, a tomar o meu lugar. Próxima pergunta.

A imprensa sentiu o coice e perdeu temporariamente a malícia, preparando perguntas de nível mais intelectual.

 - Senhor Júpiter, os opositores da missão alegam que seria irresponsável desse governo colonizar Marte, que isso traria grandes déficits econômicos em sustentar uma colônia tão distante, e isso poderia trazer de volta a guerra na nossa sociedade, agora que conseguimos a muito custo a paz mundial.

Como o comandante bem disse, ele é uma fantástica máquina física, mas quando o desafio é um papel e um lápis, a mesa leva as cicatrizes. Sabendo do calcanhar de Aquiles do comandante, e como já foi previamente ensaiado nos bastidores, o geólogo Sr. Plutão Von Hades rapidamente desliga o microfone do comandante visivelmente irritado e toma a palavra:

 - Eu sou Sr. Plutão Von Hades, geólogo e membro da Academia Platão Von Sócrates de Ciências Universais, como os senhores bem sabem, um clube muito seleto, e uma grande honra, tanto lá como aqui. A dúvida de viabilidade econômica se resume a uma única pergunta: O que você deseja? Deseja ouro e pedras preciosas? Em Marte você poderia com um único transporte, derrubar os preços de Gaia em 1/3. Talvez você prefira comidas exóticas? Em Marte, o clima diferenciado combinado com nossa engenharia genética, poderíamos criar novas espécies de frutos e legumes sem a preocupação de impactar o meio ambiente, porque lá não tem nenhum ambiente. Vocês estão preocupados em sustentar seres humanos ociosos em outro planeta enquanto aqui vocês trabalham duro? Em Marte, nossa colonização será muito restrita aos melhores e mais capazes seres que a humanidade poderá oferecer, e em retorno, estaremos mandando de volta a Gaia os filhos desses escolhidos, educados sem distrações para serem perfeitos, como os Deuses.

Esse último comentário exagerado incendiou a platéia novamente, todos falando ao mesmo tempo, alguns ofendidos, outros curiosos com o olhar cheio de esperança. Para restabelecer a Paz novamente, interveio a única mulher da missão, embora seu papel seja fundamental para o sucesso de todos.

 - Com licença, um minuto de atenção por favor. - Sua voz doce e irresistível sempre foi sua arma secreta para esconder seu temperamento explosivo e imprevisível. - Eu acredito que meu colega quis dizer que em Marte não teremos de nos preocupar com regras e procedimentos porque vocês estarão seguros aqui em Gaia, podem ficar tranquilos. Eu sou a Dra. Perséfone, médica responsável pela saúde da missão, e como objetivo secundário da missão, é minha responsabilidade criar um conjunto de procedimentos que visa a manutenção prolongada da vida humana em Marte, incluindo a saúde física e mental dos colonos, a maternidade e o impacto do ambiente marciano nas crianças. Como mulher, também serei cobaia em meus próprios experimentos para melhor adaptação da humanidade em Marte. Talvez seja melhor deixarmos as perguntas para o final, ainda temos mais membros da tripulação para apresentar, a começar pelo meu querido papai, Dr. Saturno Von Cronos, biólogo e membro da Academia Platão.

 - Obrigado princes, quero dizer, filha. - Ela odeia ser chamada de princesa. Nos contos de fadas, a princesa sempre é uma coitada que precisa ser salva da rainha malvada. Não, com certeza Perséfone está mais para a rainha, mais ou menos malvada -  Meu papel na missão é simples. Marte está morto, ou apenas dormindo? Em nosso entendimento científico atual, entendemos por planeta morto aquele que não possui atividade em seu núcleo, o que será de responsabilidade do meu colega, Sr. plutão Von Hades. A partir das suas descobertas, eu poderei determinar se nós poderemos extrair calor, vapor, energia e minerais no núcleo do planeta, principalmente nutrientes. Como o próprio nome indica, os nutrientes são basicamente formados por nitrogênio, que infelizmente nossas sondas não tripuladas LandRover e LancerEvo detectaram em quantidades insuficientes para sustentar vida. Uma teoria provável diz que o Monte Olimpo, o maior vulcão do sistema solar, tenha expelido tanto gás que além de soprar a atmosfera para o espaço, levando consigo a água e o nitrogênio, também o vulcão teria servido como um foguete, tirando Marte de sua órbita, afastando-o do Sol. Minha teoria serve de base para o experimento que vamos ...

 - Obrigado Dr. Saturno Von Cronos - Interrompe o chefe da segurança da missão, por dois motivos. Primeiro se ninguém tivesse interrompido o Dr, a conferência duraria três ou quatro dias. Mas mais importante, sua função nessa missão é um segredo bem guardado, pois a reação popular poderia cancelar todo o esforço. - Eu sou Capitão Marte Von Ares, e como meu próprio nome diz, sou chefe da segurança.  - Esse comentário teria sido engraçado, mas a presença do Capitão é tão intimidadora que ninguém teve coragem de rir. Na verdade isso sempre acontece com as piadas do capitão, o que o deixa meio chateado. -  (limpa a garganta). Muito bem, meu papel é o de manter a ordem, detectar possíveis conflitos motivados por estress na tripulação, manipular as armas anti-meteoros e as ferramentas também, como por exemplo a britadeira laser que, se não manipulada corretamente, pode até furar um olho. (mais uma piada, zero risos.)

Após um breve silêncio, já que ninguém tem coragem de perguntar nada ao capitão, finalmente o bobo-da-corte se revela ao público, e bem na hora de irritar, como sempre, o sério Capitão.

 - Obrigado Capitão pela dica, atenção crianças, não corram com uma britadeira na mão, hein? - A sala explode em risadas histéricas, como uma panela de pressão entupida. O Capitão se sente muito humilhado toda vez que isso acontece, mas sempre se controla, engolindo a raiva, e rangendo os dentes. -  OK, já que ninguém me apresenta, Senhoras e Senhores, Damas e mais Damas, me liga, eu sou Sr. Baco Von Dionísio, mas podem me chamar de Baby.  - Ele sempre diz isso piscando um olho para a mulher mais linda do salão, e sempre arranca um suspiro e uma cruzada de pernas, parece mágica. -  Meu papel nessa missão é Gloss fotográfico, (faz som com a boca de bateria bum-bum tchi) -  a platéia responde imediatamente com uma salva de risadas, de repente o ambiente ficou mais leve e descontraído, parece um clube de comédia. -  Não, falando sério, eu sou o piloto da nave, e do transporte terrestre, e mais importante de tudo, sou solteiro meninas.

 - Han-Han  - limpa a garganta bem alto, tentando salvar um pouco da dignidade da missão. -  Obrigado Sr. Baco Von Dionísio, agradescemos pelas risadas. (O capitão deixa escapar um grunhido). Eu sou Dr. Hypnossono Von Emmanuel, arqueólogo, antropólogo e homem de religião.

A imprensa tem um faro para polêmicas e explode em perguntas maliciosas de duplo sentido.

 - Senhor Hypnossono, Qual religião o senhor vai oficializar em Marte? As outras serão permitidas?
 - Senhor Hypnossono, O senhor acredita que existem fósseis humanos em Marte?
 - Senhor Hypnossono, O senhor acredita em marcianos?

Desesperado pelo retorno do silêncio, o capitão irritado com Baco, como sempre, bate seu pesado punho na mesa, derrubando alguns copos de água e imediatamente silenciando a imprensa como se o  Deus Vulcano Von Hefesto em pessoa tivesse aparecido para levar embora suas almas medíocres.

 - Obrigado Capitão, como eu ia dizendo, sou antes de mais nada um cientista, também sou membro da Academia de Ciências Universais e meu trabalho não é olhar para o passado de Marte, mas sim para seu futuro. Aqui em Gaia, olhamos um site arqueológico como uma janela para o passado, não somente desenterrando ossos, mas mais precisamente trabalhamos como um detetive, como se fôssemos resolver um crime. Suponhamos que um esqueleto seja encontrado segurando uma colher de latão. Devemos responder uma série de perguntas. Porque ele segurava uma colher? Ele estava comendo e morreu engasgado? Teve uma briga e a única arma de defesa foi a colher? Essa colher de latão foi feita na região ou importada de mercadores? Quem fez a colher? Em Marte, não haverá esqueletos nem colheres, mas ao contrário, nós um dia seremos os esqueletos de Marte. Meu papel é simples. Eu devo analisar todas as consequências de todas as decisões da missão, baseados em minha experiência com civilizações passadas, para ter certeza que não estamos novamente cometendo os mesmos erros do passado.

Um repórter se levanta devagar, ajeitando a gravata, os olhos fixos no Capitão. O menor movimento do Capitão com certeza acabaria em tragédia, uma pilha de corpos de repórteres pisoteados tentando passar pela pequena porta da saída. Sabendo disso, o Capitão permanece como uma estátua, na melhor tradição militar, seu olhar fixo no vazio, para frente, cabeça ereta, respiração controlada, seus olhos piscam a intervalos regulares. Finalmente, o repórter, engolindo o choro, começa a gaguejar:

 - Senh, (afina a voz uma oitava abaixo), Senhor Hypnossono, poderia, se, se possível, claro, nos dizer mais, isto é, se não for segredo, mais sobre seu lado religioso? Senhor? Por Favor? (este último por favor na verdade foi um pedido aos Deuses para pouparem sua vida).

 - Claro, mas infelizmente, por motivos de segurança da missão (Capitão acena discretamente um positivo com a cabeça), não posso dizer que tenho uma religião específica. Veja bem, cada religião de Gaia tem suas próprias crenças, seus próprios rituais, e mais importante, cada uma delas tenta roubar os fiéis da outra, em uma eterna luta por mais poder. Meu interesse, e função nessa missão, não é levar o poder até Marte, mas servir como representante de toda a raça Humana em nome dos deuses, e pedir que eles nos permitam suas bênçãos para o sucesso da missão. Só isso, e garanto a vocês, que nenhum grupo religioso específico será favorecido em Marte, sob minha responsabilidade. Eu sou um estudioso de todas as religiões de Gaia, se não fosse assim eu não teria sido aceito na Academia, que todos sabem, tem uma política científica muito rígida. Eu posso garantir a vocês, que todas, eu repito, todas as religiões tem uma raiz comum, tem uma origem comum, uma semente. É essa partícula fundamental que eu pretendo plantar em Marte, livre da política e da corrupção dos habitantes de Gaia.

Esse último comentário provocou um burburinho na imprensa, forçando a finalizar a coletiva e dispensar todos, que saíram para os bastidores. Ao fundo da sala, uma figura sombria observa tudo com atenção, mas sem se manifestar. Nas costas de sua mão, a tatuagem entrega sua identidade a todos, o olho de Hórus Von Osíris, o mais antigo e mais poderoso culto religioso de Gaia. Seus seguidores fanáticos nada temem, nem mesmo a morte. São temidos e respeitados, porém ao mesmo tempo, o medo das outras religiões em enfrentar o olho criou uma situação difícil de resolver. Todos unidos teriam, em teoria, a força suficiente para acabar com o olho. Mas a verdade é que ninguém é unido a ninguém. Alianças temporárias sempre acabam em traição e banho de sangue, e as poucas mortes não naturais do planeta, enchem as manchetes das notícias.

- Ainda bem que acabou - diz Perséfone -, achei que nós seríamos massacrados por perguntas sem resposta. Bom, vamos voltar ao centro de treinamento de astronautas e dormir a tarde toda.(dormir seria a última coisa na mente de todos, um último dia em Gaia. Mas seu pai estando presente, seu comportamento deveria ser sempre exemplar, como de uma Princesa. Para sua surpresa, seu pai diz exatamente o que ela queria ouvir.)

 - Filha, hoje é nosso último dia em Gaia, vamos aproveitar da melhor forma. Eu estarei retornando ao zoológico, para me preparar psicologicamente. Estou tenso, e o cheiro de esterco sempre me anima (piada interna de biólogo, não precisa fingir que foi engraçado).

 - Bom papai, como médica, acho que irei até a creche ver as crianças uma última vez. A gente se vê amanhã.

Imediatamente Perséfone toca as costas da mão do Sr. Plutão, que disfarça seu contentamento ao entender a mensagem subliminar. Todos se separam então, cada qual a seu destino, tentando ao máximo levar uma vida normal uma última vez. Em Gaia, nesse período de paz, as ruas são seguras à noite, desde que se saiba navegar pelo labirinto de igrejas e religiões sem chamar muita atenção.

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